Deputado estadual pelo PSD afirma que Robinson Faria tem de tomar
providências caso queira disputar a reeleição e que problema financeiro do
estado é “profundo” e exige medidas estratégicas
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Deputado estadual Carlos Augusto Maia (PSD) |
A falta de planejamento adequado é a
principal razão que levou o Governo do Rio Grande do Norte a ingressar no atual
cenário de crise financeira, na opinião do deputado estadual Carlos Augusto
Maia (PSD). De acordo com o parlamentar, o problema da gestão estadual é
“profundo” e exige a discussão de medidas contundentes.
Em relação às ordens judiciais para que
o Poder Executivo pague imediatamente os repasses de duodécimos que estão
atrasados, o parlamentar disse que a não transferência dos recursos
representaria um dos “piores crimes” da esfera administrativa. Carlos Augusto
frisa que o repasse das verbas é importante para garantir a autonomia
financeira dos demais poderes.
Para resolver o problema, o deputado
diz que o estado precisa discutir como gerar mais receitas. Neste sentido,
Carlos Augusto aponta para uma revisão dos benefícios concedidos no Programa de
Apoio ao Desenvolvimento Industrial (Proadi) e um debate a respeito das sobras
orçamentárias dos poderes Legislativo e Judiciário. “Não é questão de
matemática, é de planejamento”, frisa.
Eleito em 2014 pelo PTdoB (atual
Avante), mas desde o ano passado filiado ao PSD, legenda presidida no estado
pelo governador Robinson Faria, o deputado estadual diz também, nesta
entrevista ao Portal Agora RN/Agora Jornal, que está avaliando a
possibilidade de deixar a legenda. O parlamentar afirma que uma das razões que
o levaram a estudar a saída é a “falta de diálogo” dentro do partido.
Confira também a avaliação que o
deputado faz do governo estadual em outras áreas e da política de Parnamirim,
onde ele disputou as eleições do ano passado como candidato a prefeito, tendo
sido derrotado por Rosano Taveira (PRB). Segundo o parlamentar, o seu
adversário na campanha fez um primeiro ano de “arrumação da casa”, mas “sem marcas”.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
AGORA JORNAL – Como o senhor analisa as
decisões judiciais que obrigaram a administração a fazer os repasses de
duodécimos atrasados para a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Contas e o
Ministério Público?
CARLOS AUGUSTO MAIA – Deixar de
repassar os duodécimos seria um ato de improbidade. Mas, essa situação já
estava se desenhando desde janeiro de 2017. É um problema de planejamento. O
governador está pagando o preço, como chefe do Executivo, de anos de descaso de
outros governos.
AJ – Não faltou sensibilidade aos
representantes dos demais poderes neste momento em que os salários dos
servidores do Executivo estão atrasados?
CAM – É preciso saber se os outros
poderes tinham recurso financeiro para manterem também suas programações
próprias. Tem de repassar o duodécimo para o Tribunal de Justiça, por exemplo,
porque o Judiciário tem a sua folha de pagamento e os contratos. Isso é
constitucional. Administrativamente, [não repassar] seria um dos piores crimes.
AJ – O governador diz que é questão de
matemática: ou paga-se o funcionalismo ou faz-se os repasses. O senhor discorda
do governador?
CAM – O problema é mais profundo. Temos
que discutir os incentivos que são dados no Proadi, por exemplo. Além disso,
por que não estamos cobrando dos grandes devedores? Nós poderíamos melhorar a
arrecadação. É preciso rediscutir também a questão da sobra dos poderes. Não é
questão de matemática, e sim de planejamento.
AJ – O senhor é filiado ao partido de
Robinson Faria, mas já demonstrou insatisfações com o governo. O senhor pensa
em deixar o PSD?
CAM – Eu ingressei no PSD por causa da
eleição municipal [de 2016, em Parnamirim, onde foi candidato a prefeito], mas
2018 será um contexto diferente. É preciso haver diálogo para nós acompanharmos
o que está acontecendo internamente no partido, sabermos quem serão os
candidatos. Eu sei que eu não sou prioridade dentro do PSD. Tenho consciência
de que há pessoas mais próximas ao governador, e talvez eu não seja tão
próximo, ao ponto de minha eleição ser prioridade dentro do PSD.
AJ – Quem são as prioridades do PSD?
CAM – Devem ser o líder do governo e o
líder do partido na Assembleia, que são os deputados Dison Lisboa e Galeno
Torquato.
AJ – Qual a sua principal queixa em
relação ao governo?
CAM – Falta de diálogo. Temos hoje
quatro deputados estaduais do PSD (Dison Lisboa, Galeno Torquato, Jacó Jácome e
eu), mas nunca fizemos uma reunião de bancada. Temos questões a serem
resolvidas dentro do partido, mas não temos reuniões.
AJ – O senhor defende a reeleição de
Robinson?
CAM – Ele tem o direito de tentar a
reeleição, mas essa é uma decisão que o PSD e os partidos que compõem a base do
governo tomarão. Eles decidirão se este vai ser ou não o melhor caminho.
AJ – O que o governador precisa fazer
para chegar a 2018 com viabilidade política para disputar a eleição?
CAM – A primeira atitude deve ser
relacionada aos servidores. Ele tem de colocar a folha imediatamente em dia.
Tem de fazer um esforço junto ao governo federal para cobrar o auxílio que o
governo Temer ficou de mandar para o estado. Se ele [Robinson] não colocar a
dia a folha, vai ficar realmente muito complicado. Não tem clima eleitoral se a
folha estiver em atraso.
AJ – Qual avaliação o senhor faz do
governo, de um modo geral?
CAM – Com a entrada do secretário
Vagner Araújo, a gestão de projetos melhorou. O governo, por meio do “Governo
Cidadão”, tem conseguido inaugurar obras com recursos do Banco Mundial. Ele tem
feito um grande trabalho, notadamente nas pequenas cidades, com projetos de
acesso à água. Isso é importante diante de um cenário de crise. Nesse ponto, o
governo acertou. Além disso, falando de Parnamirim, muitas obras ainda irão
acontecer, como a reforma e a ampliação completa do hospital Deoclécio Marques,
que irá começar em dezembro. Tem ainda a reforma e ampliação da Central do
Cidadão, que é importante. Vai fazer também a duplicação do trecho que estava
faltando do prolongamento da Avenida Prudente de Morais e já fez a RN-066, que
liga a Coophab a Cajupiranga. Ainda é pouco, mas o governo tem conseguido
avançar.
AJ – Em Parnamirim, o senhor foi
adversário do atual prefeito na eleição, mas não faz uma oposição sistemática.
O senhor compôs com Rosano Taveira?
CAM – Não. Eu não tenho feito críticas
contundentes à administração do prefeito Taveira, porque eu dei esse ano de
2017 de crédito. Ele teve o ano todo para fazer o seu planejamento e definir
sua diretriz para 2018. Mas no ano que vem é claro que vamos nos posicionar.
AJ – Qual a avaliação o senhor faz do
primeiro ano do governo Taveira?
CAM – O primeiro ano de Taveira como prefeito não
teve nenhuma marca. O primeiro ano foi para organizar a casa, sem conquistas.
AJ – O senhor será candidato a
reeleição em 2018?
CAM – Estou focado em liberar as minhas emendas e
algumas matérias aqui na casa que são de minha autoria. Mas já tenho
trabalhado, tenho andado, visitado as bases. Sou um deputado que fui votado em
praticamente todas as cidades do Rio Grande do Norte. Então, tenho uma
responsabilidade muito grande com o nosso estado.
AJ – Seu grupo em Parnamirim estuda
outras candidaturas?
CAM – Há o nome do tabelião Airene Paiva, que está
cotado para deputado federal ou para suplente de senador. Ele recebeu um
convite e deve pensar. Se ele for candidato, será meu deputado federal. Eu
tenho tendência a votar em candidatos de Parnamirim.