*Por Carlos Noronha
O fator geográfico proporcionou ao Rio Grande do Norte
destacar-se no cenário mundial. Isso ocorreu durante a II Guerra Mundial quando
Natal serviu de base aos aliados. É a capital brasileira mais próxima da
Europa e do norte da África.
A cidade possui uma posição estratégica global. Isso fez com
que Natal recebesse as duas principais bases militares dos Estados Unidos
durante a Segunda Guerra Mundial: a Base Naval e Parnamirim Field - na época, a
maior base da Força Aérea norte-americana em território estrangeiro.
Tendo em vista a proximidade relativa com o continente
africano, o Rio Grande do Norte se constituía em alvo provável de uma possível
invasão da América do Sul e, também, representava um local ideal para a partida
de aeronaves que se dirigissem para a África e Europa.
Natal apresentava grande interesse militar, podendo servir de
base para a travessia de aviões do Oceano Atlântico e, no caso de uma tentativa
de invasão do continente, em ponto estratégico para um possível ataque ao Canal
do Panamá.
Em 1939 o conflito eclodira na Europa e a Alemanha dominava
boa parte do continente. O Brasil declarou guerra ao Eixo em 1942, após o
torpedeamento de navios brasileiros supostamente por submarinos alemães.
A marcha do Marechal alemão Rommel no norte africano
preocupou os países aliados, pois a tomada dessa área colocaria em perigo a
navegação no Oceano Atlântico.
Diante dessa situação, revela-se a importância de Parnamirim
na Segunda Guerra Mundial, uma base das nações aliadas sob a liderança dos
Estados Unidos.
A vida em Natal sofreu mudanças com a vinda de grande número
de estrangeiros, em sua maioria, norte-americanos. O comércio teve um
incremento considerável e a cidade vivenciou novos costumes.
O provável perigo à navegação do Oceano Atlântico, da costa
brasileira, como também de todo o continente americano tendo em vista o avanço
militar da Alemanha no norte da África, pode ter sido a causa para o Brasil
ceder bases militares no litoral do Nordeste do país.
Essas bases serviriam de apoio às operações militares que
seriam desenvolvidas na África.
Natal, nesse período, vivia um clima de guerra, inclusive com
blecaute4 diários. Contava também com os serviços da Cruz Vermelha, Legião
Brasileira de Assistência, Defesa Civil, e ainda abrigos antiaéreos familiares
e públicos.
O recrutamento feito para o envio de tropas à Europa ou para
a defesa do litoral contou com a participação de muitos potiguares.
Quando o presidente norte-americano Franklin Roosevelt se
encontrava na África, solicitou ao almirante Jonas Ingram para marcar um
encontro com Getúlio Vargas, em Natal. Acertada a reunião, todas as
providências foram tomadas em segredo.
O presidente Getúlio Vargas chegou a Natal no dia 27 de
janeiro de 1943, acompanhado de sua comitiva.
Na manhã seguinte, dois aviões trouxeram o presidente dos
Estados Unidos, Franklin Roosevelt e sua comitiva.
Vargas e Roosevelt participaram da Conferência de Natal que
tratou de interesses mútuos e laços de amizades entre Brasil e Estados Unidos;
a prevenção de um possível ataque dirigido de Dakar, na África, ao hemisfério
ocidental; e o apoio do Brasil aos objetivos de guerra de Roosevelt.
Nessa reunião ficou acertado o envio de tropas brasileiras
para a guerra.
A presença norte-americana em Natal mudou profundamente os
hábitos da população natalense, principalmente com a presença do grande número
de militares estrangeiros que vieram para a cidade. Isso representou a
convivência de duas culturas diferentes no mesmo espaço.
Os norte-americanos procuraram se integrar com os habitantes
locais, patrocinando festas. Surgiram, então, associações recreativas que eram
alugadas com o objetivo de realizar bailes. Houve, por causa disso, uma invasão
de ritmos estrangeiros, como a rumba e o bolero.
Diversos produtos norte-americanos, naquela época, eram
utilizados ou consumidos pela população local, tais como: refrigerantes,
chocolate gelado e chicletes.
Os homens abandonaram a vestimenta que costumavam usar no
dia-a-dia e adotaram roupas cáqui, de inspiração militar-esportiva ou jeans.
As mulheres passaram a agir com maior autonomia, incorporando
modos norte-americanos.
Natal perdia aos poucos as características de cidade pequena.
Chegam à capital potiguar de pessoas de outras nacionalidades, como por
exemplo: príncipe Bernard (Holanda), Sra. Franklin D. Roosevelt (esposa do
presidente dos Estados Unidos), Sr. Noel Charles (embaixador do Reino Unido no
Brasil), entre outros.